10°C 25°C
Cordeirópolis, SP

Cordeirópolis: 77 anos de emancipação, 139 anos de existência

Fatos e registros; fragmentos históricos de um território em transformação.

Por: Paulo Tamiazo
06/06/2025 às 16h02 Atualizada em 06/06/2025 às 16h35
Cordeirópolis: 77 anos de emancipação, 139 anos de existência
Cordeirópolis vista de cima. - Foto: Arquivo/Prefeitura de Cordeirópolis

Conforme já demonstramos em estudos nos últimos 30 anos, o local chamado desde 1944 como Cordeirópolis, anteriormente denominado Cordeiro, tem 139 anos de existência comprovada. Com o tempo, ele passou a progredir e modificar suas estruturas: em 1899, o local se transforma em Distrito de Paz, isto é, um local que passaria a ter um cartório de registro civil e um tabelião; em 1901, a capela se torna Paróquia de Santo Antonio, seguida pela Paróquia de Nossa Senhora da Assunção de Cascalho, em 1914; são feitas duas tentativas para a criação do município, que só foi criado em 1948, portanto há 77 anos. 

Durante alguns meses, temos pesquisado no acervo digital do jornal “O Estado de São Paulo”, e em todo este tempo, muita coisa foi encontrada com relação à comunidade de Cordeiro, hoje Cordeirópolis. Neste texto, vamos destacar alguns fatos, mostrados pelo jornal em suas edições nos últimos 120 anos, relacionados ao que de importante ocorreu no território onde moramos. 

Continua após a publicidade

Foto

Uma das mais antigas referências encontradas no jornal é uma nota de 11 de novembro de 1890, onde na povoação de Cordeiro estava havendo um iminente “conflito entre o povo e o cidadão José Quinteiro, que impedia que se cercasse um terreno, onde havia ideia de se fazer um jardim, alegando ser sua propriedade”. Como solução para o conflito, o suposto proprietário, Francisco Pierrotti, teria doado ao Município de Limeira a área. 

Rua Tolêdo de Barros, ano desconhecido. Foto: Arquivo fotos antigas/Cordeiro Virtual

O autor desta manifestação argumenta que o terreno pertenceria a Manuel Barbosa, que o transferiu a Francisco Pierroti, como outros que possuía. Na verdade, este Barbosa era Manoel Barbosa Guimarães, loteador e fundador da Capela de Santo Antonio dos Cordeiros, que vendeu, como citado pelo contemporâneo, vários lotes desde 1886, ao redor da referida capela.

No início deste mesmo ano, em 3 de fevereiro, ocorreu um assassinato, destacado pelo jornal na edição de 6: Henrique Pohl, um dos primeiros moradores do lugar, foi assassinado por Rodolpho Schneider, no momento em que a vítima se dirigia para sua chácara, ou seja, um lote no Núcleo Colonial de Cascalho, em companhia de sua mulher e de seu filho de mesmo nome. Atendeu à ocorrência Domingos José Rodrigues, parente de Evaristo José Rodrigues, que em um livro da década de 1960 recordou-se deste fato, ocorrido quando tinha oito anos. 

Continua após a publicidade
Anúncio

Em nossas pesquisas, especialmente no acervo do Tabelionato de Notas de Cordeirópolis, reparamos que, durante muitos anos, mesmo que as ruas do Distrito de Cordeiro tivessem nomes, e que alguns deles mudassem com o tempo, mesmo muito tempo após a fundação da povoação, as casas não tinham números. 

Sempre nos perguntamos em que período esta situação teria se modificado, e a reportagem de 9 de outubro de 1908 do “Estadão” esclarece esta questão: “Estão sendo numerados os prédios desta vila. Esse serviço foi ordenado pelo coronel sub-prefeito, atendendo assim a uma disposição legal da câmara municipal.” 

Conforme já temos falado há algum tempo, a energia elétrica foi ligada em Cordeiro a partir de 1903 e somente dez anos depois, ela foi estendida a Cascalho. Na edição de 25 de dezembro de 1913, encontram-se dados sobre o pedido da S.A. Central Elétrica Rio Claro, que solicitava três meses de prazo para a inauguração da luz em Cascalho. 

Aprovado o seu requerimento, era exigido da empresa que cedesse gratuitamente 10 lâmpadas de “mil velas” e um motor de 10 cv para “elevar à parte alta de Cordeiro a água do abastecimento local”. 

Ficou conhecida por todos que são familiarizados com o assunto a epidemia de “gripe espanhola”, ou influenza, que causou muitas mortes durante os anos de 1918 e 1919. Desde que começamos a pesquisar a história de Cordeirópolis, nunca tínhamos encontrado qualquer dado sobre a situação no distrito naquele período. Até agora. 

Continua após a publicidade

Foto

De acordo com reportagem do “Estado de São Paulo” de 11 de novembro de 1918, naquele momento teriam ocorrido 75 casos novos, com 49 doentes em convalescença. Não foram registradas, nas fontes analisadas até agora, casos de mortes devido à doença. 

Mesmo com uma economia baseada em grandes fazendas produtoras de café, tendo como exceção as plantações de amoreiras para criação de bicho da seda, que seriam encaminhadas à Indústria de Seda Nacional em Campinas, o Distrito de Cordeiro era destaque, dentre outros, em publicação de 8 de setembro de 1926. 

Segundo o analista, Cordeiro, com uma arrecadação de 54 contos de reis, tinha condições econômicas de ser transformado em município, somente sendo questionado se o local teria 10 mil habitantes, outra precondição para que fossem feitas as negociações para a autonomia do distrito. 

Apesar de ser um local de pouca população, Cordeiro estava conectado com o Brasil e o mundo, especialmente pela circulação da classe ferroviária. Um exemplo disso é a publicação de 22 de dezembro de 1926, quando, dentre as pessoas que teriam assinado a ficha de filiação ao Partido Democrático constavam: Julio Lucke, barbeiro; Victor Vaccari, pintor; Armando de Jesus, operário e Manuel Betanho, ferroviário. As famílias Lucke e Betanho ainda contam com descendentes na cidade, ao contrário da família Vaccari. 

Algum tempo depois, o jornal volta a analisar a situação econômica dos municípios e distritos do Estado de São Paulo, e em edição de 20 de abril de 1929, coloca Cordeiro como exemplo de distrito que tinha condições de se emancipar, mas não tinha movimentação. Segundo o analista, as aspirações de separação só ocorriam em distritos maltratados pela sede o que, no caso de Cordeiro, não se aplicava, pois “a sede cuidava da vila com o mesmo carinho que dava à cidade”...

Depois de muito tempo, Cordeiro torna a ser notícia, mas de forma discreta, e na página de esportes do jornal. Segundo a nota, datada do dia 1º de novembro de 1939, mas publicada só no dia 4, era informado que seria inaugurada, no dia seguinte, a “quadra de bola ao cesto” do Grupo Escolar Coronel José Levy. 

Isto explica a foto divulgada, sem data, onde aparece este equipamento esportivo, sem que ele estivesse incluído na planta original do prédio escolar. Neste mesmo ano, foi anunciada uma reforma na estrada que ligava Cordeiro a Limeira, pretendendo diminuir a distância, de 18 quilômetros para 12. Atualmente ela tem aproximadamente 8 quilômetros. 

Há alguns anos, e conforme textos já divulgados anteriormente, ressaltamos a inauguração do prédio da antiga subprefeitura de Cordeiro, atual Paço Municipal Antonio Thirion, em 25 de janeiro de 1942. Em pesquisas recentes, encontramos duas notas, da edição de 23 de novembro de 1941, que informam as ações realizadas neste local, explicando sua configuração histórica. 

Segundo a nota, naquele momento estava em vias de conclusão a construção do prédio e foi comunicado que a subprefeitura local teria mandado “ajardinar e iluminar” a parte da praça Antonio Bento (depois chamada Francisco Orlando Stocco), fronteira a este local. 

Um exemplo do desenvolvimento industrial do distrito de Cordeiro, baseado na indústria têxtil, é demonstrado em trecho de entrevista publicada na edição de 24 de abril de 1942. Segundo o jornalista, estavam em pleno funcionamento diversas fiações por todo o interior, sendo algumas em Cordeiro, Rio Claro, Piracicaba e Charqueada. A empresa citada é a Fioseda, que já estava ativa na década de 1930. 

A ampliação do parque têxtil de Cordeirópolis foi destacada através de nota publicada em 8 de fevereiro de 1946, onde se informava que tinha sido instalada “nesta localidade, pela firma Seda Tex Ltda. uma tecelagem de seda natural e rayon”. 

Também foi informado que “pelo sr. Ernesto Machione foi instalada, à avenida Cascalho, uma máquina de beneficiar arroz”. A Avenida Cascalho, desde a década de 1970, se chama Avenida Vereador Vilson Diório. No ano seguinte, em 17 de maio de 1947, foi informado que “achava-se em funcionamento o Serviço de Alto Falantes América”, conhecido como SAFA, “executado pela firma Beraldo & Cia”. 

Este texto tem por objetivo lembrar que apesar de Cordeirópolis ter se tornado município há 77 anos, precisou realizar um longo trajeto antes de conquistar sua autonomia, desde o seu surgimento há 139 anos. Parabéns, Cordeirópolis!

* O conteúdo de cada comentário é de responsabilidade de quem realizá-lo. Nos reservamos ao direito de reprovar ou eliminar comentários em desacordo com o propósito do site ou que contenham palavras ofensivas.
Paulo Tamiazo
Paulo Tamiazo
O historiador Paulo Cesar Tamiazo, de Cordeirópolis (SP), nasceu em 25 de julho de 1972, filho de Edgar Tamiazo e Maria Aparecida Ronquizel Tamiazo. Estudou o ensino fundamental em sua cidade, o ensino médio em Limeira, cidade vizinha e é Bacharel e Licenciado em História pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

Mesmo antes de se formar, já aproveitava o tempo livre para pesquisar sobre os fatos antigos da cidade. Pesquisando em bibliotecas da universidade livros sobre o período, verificou que a data que estava colocada antigamente no brasão do Município de Cordeirópolis, criado em 1967, não correspondia à realidade, pois tinha havido um erro na impressão de um texto que foi utilizado para a confecção do brasão e da Bandeira de Cordeirópolis. Foi seu primeiro trabalho, que motivou a apresentação de um projeto por todos os vereadores da cidade à época, para correção do erro, que foi sancionado pelo então Prefeito e se transformou em lei.
Ver notícias
Publicidade
Publicidade
Publicidade
Economia
Dólar
R$ 5,54 -0,11%
Euro
R$ 6,40 -0,02%
Peso Argentino
R$ 0,00 +0,00%
Bitcoin
R$ 616,301,75 -0,59%
Ibovespa
137,212,63 pts -0.43%
Publicidade
Publicidade
Publicidade